domingo, 2 de janeiro de 2011

ALCOUTIM - Recordações - Por Daniel Teixeira 

ALCOUTIM - Recordações - Por Daniel Teixeira

Pedindo as minhas desculpas ao amigo José Varzeano por estar a retirar-lhe a integralidade da página / tema gostaria de recordar aqui algumas das minhas memórias recolhidas neste Monte da Mesquita referida por ele, terra da naturalidade do meu avô materno.

Conforme referi no meu texto geral sobre esta região e nas minhas demasiado curtas memórias já escritas no Alcoutim Livre sobre estes locais onde passei vários meses todos os anos, devo agora à distância confessar que sei ter algumas memórias destes meus tempos de infância e juventude, mas...por estranho que eu mesmo acho ser, tenho uma recusa quase instintiva em aprofundar muita coisa.

A explicação que eu tenho encontrado vacila muito entre o desejo de guardar desse «meu» outro Monte (Alcaria Alta) uma boa memória e prende-se também com o facto de que agora, tudo visto à distância, os laços de afinidade, eclipsando-se com o tempo e com o desaparecimento das gentes - levei muito tempo a ir regularmente a Giões a funerais de familiares directos e indirectos e seus e meus amigos - acabam por fazer definhar esses laços, acabam por os fazer perecer, e a gente, estando por lá ou falando de lá, pergunta-se interiormente, mais vezes do que gostaria, por aquelas pessoas de quem gostava e gosta tanto...

Por onde andará o meu velho avô que nas minhas memórias ainda me aparece claramente, deitado, de chapéu tombado sobre a cara, no poial da pequena cerca da arramada, de cabeça encostada a uma albarda, de botas surradas e onça de tabaco espreitando no bolsinho do colete?

Que é feito do seu ar envergonhado pedindo-me ajuda para subir o para si já pesado arado para cima da albarda do burro? O que é feito do seu ar comprometido a bater com uma esteva as redondezas do nosso poiso nocturno em noites de dormir ao relento em folhas de terra mais distantes? Seria porque já fora picado por lacraus e ele mesmo tinha medo dessa dor horrível ou seria para que isso me não acontecesse a mim?

Que é feito de minha avó, por onde andará ela, a mulher que mais cedo se levantava em Alcaria Alta e que percorria ainda noite os caminhos para chegar ao romper da luz às hortas, regar e repartir para uma outra e outra e outra antes que o sol começasse a queimar?

«Sentindo passos atrás de si, não muito longe de si, na noite escura como breu, agarrou numa pedra maior que as suas mãos e gritou: - Quem quer que venha aí que passe para a minha frente e que mostre a cara! - Sou eu Ti Virgínia - o João!»

Este, coitado, esteve uma enormidade de anos na Alemanha, comendo o pão que o Diabo amassou, para vir morrer de ataque cardíaco não muitos anos depois do seu regresso...por isso, também, que é feito da vida que eu tive nesses sítios ? O meu amigo Juanito, morto no Ultramar, o Antonico igualmente já falecido, o seu irmão mais velho falecido há poucos anos aqui no Hospital de Faro e que na violência do seu mal nem sequer me reconheceu?

Leia este tema completo a partir de 4/1/2011

1 comentário:

  1. Gosto de ler os teus escritos... gosto sempre. Tambem me lembro bem da tua avó, a Ti Verginia e, quando vou a Alcaria Alta ainda na semana passada la fui, lembro-me sempre dela... Não posso deixar de me lembrar, como imaginas. Passo-lhe à porta, "vejo-a" à porta, sento-me nos poiais e recordo os serões ao luar...enfim a toda a hora relembro a vida daquele monte, quando lá estou...Tb gosto quando à noite, me sento na rua, fecho os olhos e me ponho a imaginar rostos, vivencias de outros tempos...Para mim o monte ainda vive, vive em
    mim, nos meus filhos e nos meus netos que adoram la ir passar fins de semana!!!

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